Paraná tem 230 alunos indígenas nas universidades estaduais
No Paraná existem bons motivos para comemorar o Dia do Índio, neste 19 de abril. O Governo do Estado alcançou a marca de 230 alunos indígenas matriculados nas sete universidades estaduais. Os alunos, pertencentes a cinco etnias diferentes (Kaingang, Guarani, Xetá, Fulni-ô e Terena), estão distribuídos em 28 cursos de graduação. Entre os cursos mais procurados estão Pedagogia, Letras, História, Educação Física, Direito e Medicina.
Na próxima edição do vestibular indígena serão disponibilizadas mais 52 vagas, sendo seis para cada universidade estadual e dez vagas na Universidade Federal do Paraná.
Os números reforçam o perfil pioneiro do Paraná nas políticas de inclusão social, principalmente no que diz respeito ao povo indígena. Segundo a presidente da Comissão da Universidade para Índios (Cuia), Eloá Soares Kastelic, o vestibular como política de estado é referência nacional. “O Paraná é pioneiro nesse tipo de vestibular e isso faz com que estejamos a frente em termos de políticas sociais”.
No ano de 2002, a primeira edição do Vestibular Indígena contou com 54 candidatos para 15 vagas. Na última edição foram cerca de 700 inscritos para 42 vagas.
INSTITUIÇÕES – A Universidade Estadual de Maringá (UEM) possui 48 alunos indígenas, o maior número entre as instituições de ensino superior do Estado. A Estadual de Londrina (UEL) tem 39, seguida pela universidade do Centro-Oeste (Unicentro) com 31; do Norte Paraná (UENP) com 26; de Ponta Grossa (UEPG), com 21; a do Oeste do Paraná (Unioeste), com 19, e a Estadual do Paraná (Unespar), com seis alunos.
PROTAGONISMO – Para o professor do departamento de Serviço Social da UEL e membro da CUIA Wagner Amaral, o aumento exponencial do número de indígenas que participam do processo seletivo se deve aos profissionais que, depois de formados, atuam nas comunidades a que pertencem.
“Em 2017, depois de 15 anos de implantação da política, tivemos 55 profissionais formados. Os indígenas estão assumindo o protagonismo em diversas áreas, como educação, saúde e gestão. Sendo assim, acabam como espelho para as próximas gerações”.
Gilza Ferreira de Souza pertence a etnia Kaingang e se formou em 2016 em Serviço Social pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Ela deseja seguir a carreira profissional sem esquecer a população indígena. “Pretendo continuar trabalhando com o meu povo. Se conseguir conciliar minha profissão, melhor ainda. Porém, de qualquer maneira quero ajudar no desenvolvimento de novos estudantes que desejam entrar na universidade”.
Wagner Amaral, que coordena o projeto "as trajetórias dos profissionais indígenas e os circuitos de trabalho indígena na educação", também destaca que as universidades podem aprender muito com as experiências dos indígenas. “As instituições têm a oportunidade de se aprofundar no processo de interculturalidade. São trocas de sabedorias que proporcionam interação entre culturas e um enorme ganho de conhecimento”.
PRIMEIRA – Mesmo com as dificuldades de deslocamento até a universidade, Maria Lucia se tornou a primeira indígena Avá-guarani a se formar em Letras – Português e Espanhol na Unioeste no campus de Foz do Iguaçu. Formada em março deste ano, Maria conta que sempre sonhou em estudar Letras. “Esse era o meu sonho quando planejei entrar na universidade. Adoro dar aulas de guarani na aldeia e o curso me ajudou muito”.
No processo de aprendizagem os professores e alunos foram essenciais para Maria concluir o curso. “No meu curso a maioria das pessoas, entre professores e alunos, compreenderam minha realidade e me ajudaram a terminar a universidade. No início, a língua foi uma barreira, mas conseguimos superar aos poucos”. Com 40 anos, Maria quer ingressar na pós-graduação da universidade. “Penso em fazer uma especialização e quem sabe até mestrado. Tenho que seguir me atualizando para ajudar, cada vez mais, minha aldeia”.