Paraná abre primeira escola técnica de operação florestal do Brasil
O governador Carlos Massa Ratinho Junior inaugurou nesta sexta-feira (31) a primeira escola técnica de operação florestal do Brasil, em Ortigueira, nos Campos Gerais. O Centro Estadual de Educação Profissional Florestal e Agrícola é fruto de uma parceria entre o Governo do Estado, a Klabin e a prefeitura. O investimento total foi de R$ 35 milhões, sendo R$ 12 milhões repassados pela Secretaria da Educação e do Esporte.
A escola funcionará no prédio que foi utilizado como alojamento dos trabalhadores do Projeto Puma, da Klabin, um dos maiores investimentos privados da história do Paraná, construído com incentivo do Governo do Estado. A estrutura, de 37,7 mil metros quadrados, foi doada pela Klabin e conta com quartos, banheiros, salas de aula, cozinha industrial, refeitório, campo de futebol, área de lazer e laboratórios de biologia, mecânica, solos e corte e afiação.
A escola tem capacidade para 800 alunos, sendo que até metade no regime de internato. Nesse primeiro semestre serão 172 alunos distribuídos em quatro turmas – 112 moradores locais e 60 em regime de internato, que possibilita o ingresso de estudantes de diferentes regiões do Paraná.
O governador ressaltou que a escola, que começará a funcionar em fevereiro, será exemplo para o Brasil e a América Latina pela qualidade técnica de ensino e do projeto pedagógico inspirado em modelos da Suécia e da Finlândia. “Formaremos profissionais com metodologia de trabalho e ensino finlandeses, considerada a melhor educação do mundo. Ensinaremos esses jovens a ter uma profissão e a crescer na carreira, tudo isso dentro de um espaço muito moderno”, afirmou Ratinho Junior.
“Essa escola é um trampolim na vida dos jovens do nosso Estado. Qualquer empresa no País ou no mundo poderá contratar profissionais paranaenses altamente qualificados a partir dos próximos anos”, disse. Segundo Ratinho Junior, o formato misto para moradores locais e internato permite acesso a todos os paranaenses que têm interesse em estudar as áreas técnicas florestais e também o agronegócio, área que foi incluída na formação a pedido da Secretaria da Educação e do Esporte.
A Educação brasileira, destacou o governador, precisa acompanhar a mudança comportamental das novas gerações e as evoluções impostas pelas novas tecnologias. “O País ainda não aprendeu a oferecer formação técnica aplicada para que os jovens saiam do Ensino Médio com uma profissão. Essa escola fará com que esses alunos não apenas tenham novas oportunidades na vida, mas independência para percorrer o mundo”, acrescentou.
RESGATE
Gláucio Roberto Dias, diretor-geral da Secretaria da Educação, afirmou que o objetivo do Governo do Estado é o resgate do ensino profissionalizante. “No passado tínhamos muitas escolas nessa linha, que estimulavam a formação profissionalizante. Com esse projeto e outras ideias em gestação, vamos entregar possibilidades de futuro melhor, inclusive para atender uma grande demanda do mercado global do agronegócio”, disse Dias. “Além disso, esse projeto evita a evasão escolar e o êxodo rural e pode gerar mais desenvolvimento na região. É uma iniciativa social e econômica, com ganho imensurável, e antenada aos novos tempos”.
BOM MOMENTO
A escola também complementa o bom momento da economia paranaense e do mercado de celulose. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o crescimento industrial cresceu 5,4% em 2019, puxado também pelo setor de papel e celulose (1%). Além disso, papel e celulose foram o quarto principal item da pauta de exportações do Paraná em 2019 e a super safra estimada para 2020 deve demandar ainda mais dessa indústria.
O Estado concentra 13% do total de florestas plantadas no Brasil e um estudo da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ) aponta capacidade de investimento na ordem de R$ 32,9 bilhões no setor até 2023. Papel e celulose empregam 3,8 milhões de pessoas no País.
José Totti, diretor florestal da Klabin, destacou a expansão do mercado de celulose no Brasil, mas disse que ainda há deficit de técnicos qualificados para operar maquinário com tecnologia embarcada. “A gente tem que pegar pessoas e treinar do zero. Esse treinamento leva dois anos. Não dá para continuar com essa realidade. Queremos aproveitar melhor a produtividade das pessoas e das máquinas. Com os cursos técnicos, os jovens entrarão no mercado de trabalho já na metade da curva de aprendizagem”, destacou. “Essa escola levará jovens do Paraná para o Brasil inteiro, com possibilidade de emprego muito alta. É um marco no setor educacional do Estado”.
ANSIEDADE
Milaine Aparecida Rodrigues Nunes, 14 anos, mal consegue administrar a ansiedade com o começo das aulas. Ela cursará conjuntamente o Ensino Médio e o técnico em Agronegócio. A jovem é de uma comunidade rural de Ortigueira (Água das Pedras) e pretende ajudar os pais, que plantam feijão e milho, a expandir a fazenda. “Eu já moro no sítio e ver como funciona a administração na prática vai ajudar muito. Até para saber como investir quando for a hora. Em Ortigueira não havia colégio com esse foco de oportunidade”, afirmou.
Sidemar Rodrigues de Souza, 34, também morador de Ortigueira, vai começar o técnico em Manutenção de Máquinas Pesadas, que será sua primeira formação profissional. Ele é operador de uma colheitadeira em fazendas de grãos da região. “Tudo o que eu sei do dia a dia fui aprendendo por conta, e com alguns cursos de 24h. Ter um treinamento oficial vai ajudar imensamente minha profissão”, pontuou.
A escola também traz novas perspectivas de vida para Danilei lara Gonçalves, 27 anos. Ele fará o técnico em Manutenção de Máquinas Pesadas no contraturno do emprego oficial, na Klabin, onde é operador há quatro anos. “Já trabalho na área florestal e a manutenção me auxiliará a conhecer melhor os equipamentos. Quero melhorar na área em que eu estou, e, se pintar alguma vaga nova, é importante ter uma carta na manga”, afirmou.
PRESENÇAS
Estiveram presentes no lançamento da escola em Ortigueira os secretários Norberto Ortigara (Agricultura e Abastecimento), Sandro Alex (Infraestrutura e Logística), Márcio Nunes (Desenvolvimento Sustentável e Turismo), João Carlos Ortega (Desenvolvimento Urbano e Obras Públicas) e Beto Preto (Saúde); os deputados estaduais Alexandre Curi e Plauto Miró; a prefeita de Ortigueira, Lourdes Bânach; prefeitos de cidades dos Campos Gerais; o diretor-geral da Klabin, Cristiano Teixeira; e o diretor-presidente da Fundepar, José Maria Ferreira.
Formação será concomitante com o ensino médio e de complementação técnica
Os cursos oferecidos no Centro Estadual de Educação Profissional Florestal e Agrícola são técnico em Operações Florestais, técnico em Manutenção de Máquinas Pesadas e técnico em Agronegócio. A formação oferecida é nas modalidades integral, concomitante com o Ensino Médio, e subsequente, quando o aluno já tem a formatação e faz apenas a complementação técnica.
Os requisitos para os técnicos em Operações Florestais e Manutenção de Máquinas Pesadas são 18 anos completados no ato da matrícula e certificação de conclusão do Ensino Médio. Os cursos têm duração de um ano e meio a dois anos, dependendo do turno. Já para o técnico em Agronegócio o requisito é ter concluído o Ensino Fundamental e o curso tem duração de três anos.
A Secretaria de Estado da Educação fez as adaptações necessárias para acessibilidade e construiu uma oficina mecânica e uma quadra poliesportiva coberta. O investimento do Governo do Estado foi de R$ 12 milhões.
Como se trata de uma formação ainda inédita no Brasil, a Klabin disponibilizou instrutores para participarem do processo seletivo dos professores da escola. Ao todo, 25 professores já foram contratados, e ainda passarão por capacitação profissional. Funcionários da Klabin também trabalhão no Centro.
Modelos da Suécia e da Finlândia inspiraram projeto pedagógico
Para desenvolver o projeto pedagógico, representantes da Klabin, da Secretaria da Educação e da prefeitura visitaram, em 2017, escolas que são modelos na Finlândia e Suécia, na Escandinávia, referência mundial nesse modelo integrado.
“Estou nesse projeto desde 2016 e os cursos que a Klabin propôs na época não existiam no nosso catálogo, mas nós compramos a ideia e fomos atrás de experiências similares fora do País. Fizemos a viagem, coletamos as experiências e o Conselho Estadual de Educação nos orientou para aplicar as ideias. Nesse formato, os alunos terão disciplinas que podem ser aproveitadas em qualquer lugar do mundo”, afirmou Sueli Aparecida Martins, chefe do Núcleo Regional de Educação de Telêmaco Borba (que engloba Ortigueira).
Segundo ela, as escolas técnicas europeias já manifestaram interesse em realizar intercâmbios futuros de alunos e professores e algumas empresas do setor agroflorestal também já se comprometeram a conceder estágios supervisionados aos estudantes. Atualmente, um operador florestal ganha cerca de R$ 2 mil mensais em início de carreira.
“É uma escola aberta a qualquer estudante. A turma de técnico em Agronegócio, por exemplo, fechou muito rápido. Nós pensamos em aliar a demanda agrícola do Estado com a demanda por cursos técnicos na área. Entendemos a demanda do setor florestal e aproveitamos para potencializar a nossa vocação”, complementou a chefe do NRE.