Sem agrotóxicos, feiras orgânicas têm variedade, qualidade e bom preço

Há seis meses, a bancária Evelin Oliveira de Souza, 27 anos, não se preocupava se as frutas e verduras servidas em casa tinham ou não agrotóxicos. Tudo mudou, no entanto, com o nascimento da pequena Leona, em novembro passado. “Agora eu fico atenta ao que estou consumindo, pois além de querer ter melhor qualidade de vida, mais saúde, também acho que o leite que dou para ela é muito mais saudável, já que estou me alimentando melhor”, justifica a orgulhosa mãe.

Todas as terças-feiras, Evelin faz questão de ir à Feira Orgânica do Portão, um dos 13 pontos espalhados por Curitiba durante a semana, de terça a sábado, e que são administrados pela Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento.  Ao fim das compras, não podem faltar na sacola da bancária cenoura, brócolis, alface, laranja, limão e batata – tudo orgânico, sem adubos químicos ou insumos geneticamente modificados. “Gosto da qualidade e sei que o que estou comprando é realmente orgânico, pois os feirantes têm certificação”, acrescenta ela.

A garantia da procedência e de que os alimentos são realmente orgânicos é um dos grandes diferenciais das feiras da Prefeitura. “Todos os produtos comercializados, como hortifrutigranjeiros, ovos, carnes e até cosméticos, passam por um constante monitoramento das equipes da Gerência Técnica de Controle de Qualidade”, explica José Carlos Koneski, diretor do Departamento de Unidade de Abastecimento da Secretaria, responsável pelos pontos.

Os alimentos orgânicos, sejam in natura ou processados, passam por constantes auditorias para serem certificados como, de fato, orgânicos. O selo do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica, dado por certificadoras cadastradas junto ao Ministério da Agricultura, garante que os produtos embalados e processados estão mesmo de acordo com a lei. Alimentos a granel, como os hortifrutigranjeiros vendidos nas feiras orgânicas da Prefeitura, devem ter uma identificação, como plaquinhas indicando que também estão em conformidade. “São essas certificações e identificações que são monitoradas pela Secretaria”, afirma Koneski.

O diretor do Departamento de Unidade de Abastecimento da Secretaria ressalta ainda, no caso dos produtos a granel, que os feirantes devem deixar as identificações acessíveis aos consumidores. “Mas caso não estejam, o freguês deve pedir para verificar a declaração, já que é obrigatório deixar essa identificação nas bancas”, acrescenta ele.

Direto da roça

Outro diferencial das feiras orgânicas da Prefeitura é que os feirantes de hortifrutigranjeiros também são produtores da Região Metropolitana de Curitiba, o que garante alimentos sem agrotóxicos fresquinhos para a população. Em sua chácara em Tijucas do Sul, Emerson Schonorr, 43 anos, cultiva há 18 anos as cenouras, alfaces, brócolis, espinafres, cebolas, nabos, rabanetes, jilós, inhames, rúculas e couves-flores que são vendidos às terças na feira de orgânicos do Seminário, às quartas na do  Expedicionário e aos sábados na do Passeio Público.  

 “A maioria dos produtores da região planta hortigranjeiros. Já boa parte das frutas, como maçã, laranja, maracujá, limão e mamão, não é produzida aqui, vem de locais mais distantes e até de outros estados. Por isso, a oferta de frutas é menor se comparada ao de legumes e verduras”, conta Emerson. Segundo ele, tomate, batata e cebola também têm volume reduzido de produção, pois são mais suscetíveis a doenças, como a temida pinta-preta. “Como não usamos fertilizantes sintéticos, agrotóxicos e transgênicos, esses produtos sofrem mais e acabam tendo muita quebra de safra”, justifica.

Hortigranjeiros orgânicos plantados pela família do agricultor Celso Carachenski, 35 anos, em Campo Largo, também chegam fresquinhos nas feiras do Seminário, da Emater (quartas) e Botânico (sábado).   Além disso, o produtor comercializa geleias (de pêssego, uva, amora, laranja e abóbora), molho e extrato de tomate e temperos em potes. “Tudo é certificado pelo Tecpar, o que garante que nossos produtos são realmente orgânicos”, reforça Celso.

Preço

Os preços dos orgânicos têm baixado consideravelmente, nos últimos anos, mas os custos sempre serão mais elevados que os da agricultura convencional. “A escolha do nosso freguês não se baseia tanto no preço, mas, sim, em comprar alimentos livres de fertilizantes e agrotóxicos”, pondera o agricultor David Nunes de Souza, 23 anos, que vende na feira orgânica do Seminário as frutas, verduras e legumes de seu sítio em Campo Largo.  

David lembra que os custos dos produtos orgânicos são mais elevados que os convencionais porque os agricultores dependem de capinas manuais, o que exige um grande volume de mão de obra. Além disso, o maior custo de adubos orgânicos, o menor volume transportado e a menor durabilidade tornam o produto final mais caro. “A gente acaba produzindo em menor quantidade. Não dá para competir de igual para igual com quem planta usando agrotóxico e fertilizante químico. Mas estamos chegando num preço muito próximo”, ressalta ele.

Cosmético e carne

Nas feiras orgânicas da Prefeitura, a oferta de produtos livres de agrotóxicos e aditivos químicos não se restringe a hortifrutigranjeiros. Em uma charmosa van, montada como uma verdadeira vitrine, Maria Cândida Pereira, 38 anos, comercializa nas feiras orgânicas do Seminário e da Praça do Japão (quintas) mais de 100 cosméticos certificados. “Meus carros-chefes são os óleos essenciais, desodorantes e cremes de dente, mas tenho vários cosméticos, como xampu, argilas, loções corporais e até batons”,  conta.

Maria Cândida salienta que os cosméticos orgânicos são procurados tanto por consumidores que preferem itens livres de ingredientes sintéticos como por quem tem alergia. “A maioria dos meus clientes é jovem. São pessoas que buscam qualidade não apenas no alimento, mas também nos produtos de higiene e beleza consumidos diariamente”, reforça.

Livres de hormônios e antibióticos, as carnes da Taurino’s Organic também são muito disputadas pelos fregueses das feiras orgânicas do Seminário, Expedicionário, Praça do Japão e Passeio Público. “Oferecemos produtos desossados e a vácuo, como contrafilé, costela, carne moída e picanha. Mas nosso campeão de vendas é o hambúrguer. Todo mundo adora, pois só vai carne, sal e cebolinha”, revela Huescley Oliveira, 21 anos, que comercializa os produtos em uma van com os alimentos devidamente refrigerados.

Em família

A médica Karine Horta Barbosa, 42 anos, é adepta dos alimentos orgânicos há mais de cinco anos e já está ensinando os filhos Bernardo, 11 anos, e Henrique, 3 anos, a terem o hábito de consumidores esses produtos. “Comecei a frequentar essas feiras em viagens ao exterior e não parei mais. A qualidade é muito melhor e sinto a diferença no meu organismo. Me sinto mais disposta e saudável”, recorda ela, que faz suas compras de hortifrutigranjeiros nas feiras do Seminário e do Passeio Público. 

A fisioterapeuta Renata Montovani, 31 anos, aderiu a frutas, verduras, legumes e ovos orgânicos há dois anos. “Além de mais saudáveis, por serem livres de agrotóxicos, também acho que os produtos orgânicos são mais saborosos. E até o preço, mesmo sendo um pouco mais caro, compensa. Minha saúde não tem preço, na realidade”, garante ela, que toda semana percorre as bancas dos pontos no Seminário e no Passeio Público.