Horta do Cajuru faz um ano e garante alimento saudável para 120 pessoas
Há um ano, o autônomo Ezequias Moreira Lima, 49 anos, mudou sua rotina diária. Antes era acordar e, depois do café da manhã, ligar para os fregueses para confirmar o horário do serviço do dia. Agora, depois da refeição matutina, Ezequias (mais conhecido como Baiano) deixa sua casa, por volta da 8 horas, rumo ao terreno ao lado. Ele é um dos 24 produtores urbanos responsáveis pela Horta Comunitária do Cajuru, inaugurada pelo prefeito Rafael Greca no dia 13 de julhodo ano passado e que tem o apoio do município.
Parceria entre a Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento (Smab) e a concessionária de trens Rumo, a Horta do Cajuru é a 24ª da cidade a ter o acompanhamento técnico dos engenheiros agrônomos da Prefeitura. São cerca de 120 pessoas beneficiadas, entre produtores e familiares da Comunidade Oficinas e da Vila Betel. No local, os produtores urbanos cultivam hortaliças e temperos, além de frutas nativas como pitanga, limão e laranja. Localizada ao longo da linha férrea que sai da sede da Rumo, a horta ocupa uma área de 1 mil metros quadrados.
Orgulhoso de seu canteiro repleto de alface, couve, rúcula, almeirão, mostarda, escarola, salsinha e cebolinha, Baiano garante que a qualidade alimentar da família melhorou muito desde o ano passado. “Agora todo dia preparamos uma bacia cheia de verduras da nossa horta”, afirma ele, que mora com a esposa e ainda divide os alimentos com oito filhos, noras e netos. Além disso, quem chegar ao local e pedir vai poder levar para casa parte da produção. “Tem pra todos”, afirma o morador da Comunidade Oficinas.
Líder da Horta do Cajuru, o autônomo Manoel Alves da Silva, 49 anos, confirma que o cultivo das hortaliças vem melhorando a qualidade da alimentação das famílias. Além disso, segundo ele, o plantio está ajudando a reduzir os gastos dos moradores com hortaliças, que passaram a usar o recurso economizado na melhoria da qualidade de vida. “Eu planto para mim, minha esposa, Cristiane, e meu filho, Pietro, de 7 anos. Com o que economizo aqui, eu compro outros produtos, como leite, café e macarrão, no Armazém da Família das Vilas Oficinas”, explica o pedreiro William Masba Rodrigues Alves, 32 anos, que também vive na Comunidade Oficinas. De seu canteiro serão colhidos, pés de alface, rúcula e mostarda.
A dona de casa Nadir Garcia Leão de Souza, 55 anos, participa da horta há seis meses e, ao lado do marido, Jovertino, planta várias hortaliças para consumo próprio e familiares. “Lá em casa, somos em seis pessoas. Todos ficam esperando eu levar o alface, a cebolinha e o almeirão dos canteiros”, revela ela, que diariamente percorre seu canteiro, regando e conferindo o crescimento da plantas. Nadir afirma que sempre tentou incentivar a família a comerem verdura, mas só agora realmente todos entenderam a importância de ter mais verde no prato. “Um dia eu preparei uma ‘peixinho da horta’ frita à milanesa e todo mundo pessoa que era peixe de verdade”, revelou ela, em referência a uma das plantas alimentícias não-convencionais (Pancs) cultivadas no local.
Terapia
O secretário municipal de Agricultura e Abastecimento, Luiz Gusi, lembra que as hortas comunitárias têm um papel que vai para além do cultivo de frutas e hortaliças saudáveis para consumo próprio. “Também é uma atividade terapêutica, de relaxamento e de convívio social. Pode gerar ainda renda extra com a venda de excedentes, economia na compra desses produtos e até alguns outros benefícios, como educação ambiental e educação alimentar”, justifica ele.
Para o profissional de logística Juarez dos Santos, 49 anos, o contato semanal com a terra está ajudando seu filho Otávio, de 10 anos, portador de transtorno autista, a interagir mais. “O Otávio me ajuda no plantio e conversa com os outros produtores. Está sendo muito bom para ele, além de ser uma atividade complementar do que ele tem na escola”, avalia o pai, que mora em uma casa ao lado da Horta do Cajuru e começou a cultivar no local há três meses.
Pantanal
O secretário municipal de Agricultura e Abastecimento revela que a parceria entre a Prefeitura e a concessionária de trens Rumo irá resultar, até o fim de agosto, na inauguração da 25ª área de cultivo comunitário com apoio do município. Localizada na Vila Pantanal, no Alto Boqueirão, a Horta do Pantanal terá um curioso formato de folha e está sendo instalada, também ao longo de uma linha férrea, em um terreno de aproximadamente 5,5 mil metros quadrados (próximo a Rua Hermenegildo Ormenze).
Inicialmente, o local deverá receber cerca de 50 famílias de agricultores urbanos, mas terá capacidade para atender um total de 100 famílias. Assim como no caso da Horta do Cajuru, na Pantanal, os engenheiros agrônomos da Smab serão responsáveis pela assistência técnica, apoio organizacional das comunidades e, inicialmente, fornecimento de mudas e insumos. “Neste momento, estamos na fase de preparo do terreno e seleção dos agricultores que irão participar”, antecipa Gusi.
Programa
A Prefeitura mantém o Programa Hortas Comunitárias desde 1986. Atualmente, são 24 áreas cultivadas por produtores urbanos, beneficiando 872 famílias e cerca de seis mil pessoas, entre agricultores, familiares e pessoas que ganham ou adquirem os alimentos das hortas. Os locais de cultivo se espalham por 428 mil metros quadrados sob linhões de energia, terrenos públicos e áreas da iniciativa privada, como a da Rumo. As hortas comunitárias estão localizadas, atualmente, nos bairros Cajuru, Rebouças, Sítio Cercado, Tatuquara, Campo do Santana e Cidade Industrial.