Caderno Pedagógico leva história do povo negro às escolas estaduais
Estudo inédito na área educacional sobre a presença negra no Estado do Paraná foi lançado nesta quinta-feira (4/4), na Casa Romário Martins. O Caderno Pedagógico Oralidades Afroparanaenses é uma coletânea de pesquisas elaborada por professores que participaram do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), lançado pela Secretaria de Estado da Educação, em parceria com o Centro Cultural Humaita.
O caderno pedagógico será disponibilizado para escolas estaduais em formato digital e para interessados pelo e-mail [email protected], a partir desta sexta-feira (5/4).
A publicação traz artigos de 13 autores que relatam as mais importantes contribuições culturais e tecnológicas africanas na formação da sociedade paranaense e na construção de cidades centenárias como Paranaguá, Castro, Guarapuava, Quatro Barras, Tibagi e Curitiba.
Também é baseado no livro Oralidades Afroparanaenses – fragmentos da presença negra na história do Paraná (Humaita, 2016), de autoria do assessor de Políticas da Promoção da Igualdade Racial da Prefeitura de Curitiba, Adegmar Silva, o Candiero.
“Gosto de citar um provérbio africano que diz: 'enquanto os leões não contarem sua história, prevalecerá a versão dos caçadores'", disse ele na ocasião do lançamento.
Segundo Candiero, o pioneirismo negro, seu protagonismo e o uso de tecnologias africanas serão ensinados nas escolas do Paraná com auxilio deste caderno e, principalmente, “com reflexão dos professores sobre a participação do negro na construção da história”, explica.
O caderno pedagógico foi organizado por Candiero, Melissa Reinehr, pesquisadora da área, e Edna Coqueiro, da coordenação da Educação das Relações Étnico Racial e Quilombolas e lançada pela Secretaria da Educação do Paraná.
“O caderno é importante por abordar a negritude paranaense, apresentar aspectos da cultura do Estado que até então estava escondida, invisibilizada. A herança negra no Paraná é rica, composta de fatos históricos lindos e fortes”, explica Edna.
Oralidades Afroparanaenses
A oralidade é a transmissão verbal dos conhecimentos armazenados na memória. Segundo a pesquisadora Melissa Reinehr, acreditava-se que na África não havia escrita. Hoje sabemos que há fartos registros escritos muito antigos que testemunham a história geral da África, como o publicado pela Unesco History of África Collection in Portuguese.
"A oralidade vem se tornando cada vez mais respeitada como depositária de memórias que nos ajudam a ver o passado, compreender o presente e construir o futuro", explica Melissa. “A tradição africana tem grande apreço pelo poder da palavra falada”, diz.
Diversas mitologias e cosmovisões africanas são transmitidas de geração em geração por pessoas cuja responsabilidade é de memorizá-las, sem necessidade de registro escrito.
De acordo com Candiero, quanto maior a capacidade de memória das pessoas, maior o seu poder de fala.
Candiero ressalta que essa característica não é exclusiva dos povos africanos: indígenas, ciganos e diversos povos também prezam pela tradição oral. “O próprio livro do prefeito Rafael Greca é permeado de oralidades, ele cita vários depoimentos em suas narrativas do livro Curitiba: Luz dos Pinhais”, comenta.