Há 70 anos, Praça Rui Barbosa começava a se tornar um ponto de referência de uma Curitiba urbanizada
Se hoje a Praça Rui Barbosa, no Centro de Curitiba, é um ponto de convergência urbano, reunindo diariamente milhares de pessoas, é porque há 70 anos, em abril de 1955, começou um projeto de urbanização de uma área baldia, parcialmente alagada e ocupada por animais silvestres.
Antes, na época da Curitiba provincial, o terreno que atualmente compreende a Praça possuía outras denominações, como Campo do Olho d’Água e Olho d’Água dos Sapos. Tais nomes remetiam a uma importante vertente de água, muito utilizada pela população na época e mais tarde encanada para o Largo do Mercado, hoje Praça Generoso Marques.
Em 1913, foi inaugurada como Praça da República e renomeada como Rui Barbosa (1849-1923), na década de 1920, homenageando o senador, jurista, advogado, diplomata, escritor, filólogo, jornalista, tradutor e orador brasileiro.
Onda modernizadora
A partir de 1950, quando a economia cafeeira mudava o cenário econômico do sul e sudeste brasileiros, a modernidade chegou em Curitiba, incidindo diretamente em seus espaços públicos, e a Praça Rui Barbosa passou por uma remodelagem que lhe concedeu as características de praça como conhecemos hoje, iniciada durante a gestão do prefeito Ney Braga.
Junto da modernização, vieram transformações no transporte coletivo da cidade e a Rui Barbosa recebeu seus primeiros pontos de ônibus.
Maior terminal de transporte
Atualmente recebendo 43 ônibus e um fluxo diário de 46 mil passageiros, a Praça Rui Barbosa já foi o maior terminal de transporte coletivo da cidade. Nos anos 1970, quando a capital passava por uma fase de intensas mudanças estruturadas pelo Plano Diretor, a reconstrução do sistema viário tornou-se uma das metas principais, e a Rui Barbosa foi uma peça fundamental da implantação da Rede Integrada de Transportes de Curitiba.
Centro cultural
Durante o dia a Praça era movimentada pelo fluxo de trabalhadores chegando de ônibus ao Centro, mas nas noites de quinta-feira a domingo, era o teatro que atraía o público. Entre os anos 1958 e 1975, a Rui Barbosa se tornou um dos principais centros culturais da cidade, com o Teatro de Bolso, reunindo curitibanos para assistir às produções teatrais de Ary Fontoura e companhia.
Recuperado em outro edifício da Praça em 1980, o Teatro de Bolso funcionou por mais uma década, quando marcou uma nova geração de curitibanos, como o comerciante Fábio de Freitas, 57, que era filho de feirantes da praça.
“O Teatro de Bolso foi muito importante no meu desenvolvimento, era o espaço cultural que a gente tinha, lá eu aprendi habilidades de comunicação que me ajudam até hoje, que me apresento com o Nosso Canto (programa da Fundação Cultural de Curitiba que ensina técnica vocal e prática de canto coral em todas as regionais de Curitiba)”, contou Fábio.
Feirinha e quartel
A mãe de Fábio, Eunice, era artesã e vendia suas produções em crochê na feirinha da Rui Barbosa. As feiras de artesanato tiveram seu início em Curitiba ainda nos anos 1960, realizadas aos domingos no Setor Histórico, tradição que permanece com a Feira do Largo da Ordem, e às quartas e sábados, na Praça Rui Barbosa.
Na praça, a feira que contava com cerca de 50 pessoas na sua primeira década, passou a agrupar mais de 900 artesãos em meados dos anos 1990, além do comércio ambulante. Nessa época, a prefeitura deu início a construção das Ruas da Cidadania, e a Praça Rui Barbosa foi escolhida para abrigar a Matriz.
O espaço que hoje compreende a Rua da Cidadania, foi adquirido ainda em 1865 pelo Ministério da Guerra para a instalação do Esquadrão da Guarnição Fixa da Província e o 2º Corpo de Cavalaria, e por muito tempo foi conhecido como quartel, sendo uma das marcas da Rui Barbosa. Em 1975, o edifício foi entregue pelo Ministério do Exército para a Prefeitura por meio de um convênio, e então foi transformado em um centro comercial e a Rua da Cidadania da Matriz.
Rua da Cidadania
Com o centro comercial, a prefeitura transferiu os feirantes da praça para um espaço coberto, mais seguro e com acesso a energia elétrica. Atualmente, a Rua da Cidadania Matriz conta com 400 boxes, quiosques e lojas situados na parte interna (o mercado) e externa (o centro comercial) do local, além do Armazém da Família e do Sacolão da Família, e os serviços municipais para o cidadão, com um fluxo diário de em média 10 mil pessoas.
Os pais de Fábio de Freitas foram alguns dos feirantes que passaram pela mudança. Atualmente Fábio continua o legado deles na Rua da Cidadania comercializando peças de artesanato. A mãe faleceu há cinco anos e parte da produção vendida é feita pela sua irmã. Ele também conta que mantém amizades da época da feira com outros vendedores que hoje trabalham na Rua da Cidadania.
Para o funcionário da loja de ferragens DF, localizada em frente à praça, Ari Pereira de Paula, 61, a mudança chegou gradativamente. Ari trabalha na DF desde seus 25 anos, e lembra dos horários de descanso que passava na praça junto a outros trabalhadores, e de comprar frutas e verduras nas barraquinhas da feira.
“Eu sempre aproveitava para garantir minhas frutas e verduras na feirinha, hoje mudou mas não muito, faço as compras no Sacolão da Família”, contou. O Sacolão da Família é um dos principais serviços procurados na Rua da Cidadania, oferecendo hortifrútis a preço acessível e de qualidade, promovendo a segurança alimentar da população curitibana.