Nascimentos
O ano novo nos traz, entre outras coisas, o autoconhecimento. E nada é mais lindo do que se conhecer e se recriar. Todo dia é ano novo, penso. É tudo sobre errar e ter a certeza do direito e possibilidade ao recomeço. Esse é um dos motivos que nos mantém vivos. Pense só, se tudo fosse “one shot”? Uma só tentativa. Uma só escolha. Um só caminho. Um só namoro. Um só prato. Um só modelo na loja de sapatos. Uma única numeração marcada para todo o sempre.
A beleza da vida está no poder mudar. No fazer alguma coisa estúpida no cabelo, se olhar no espelho e desfazer. No se relacionar com uma pessoa por um tempo e ver que, na verdade, não era nada daquilo – e poder se encontrar com outra.
Sempre fui da opinião confortante de que o mundo é gigante, existem quase incontáveis pessoas nascendo e morrendo todos os dias, e mil e uma chances de recomeço. Vai lá, se muda. Muda seu jeito de vestir, a cor que você pinta a unha. Exclui todos os seus “amigos” tóxicos, para de puxar o saco daquele cara que não vai te ligar. Leia novos livros, comece outro curso. Adote novas expressões. Ame uma causa. Se apaixone – por você ou por alguém.
A pior prisão é a mental, aquela que você mesmo cria e não existe Habeas Corpus capaz de te tirar. O veneno é quando você entra em um ciclo vicioso e insuportável de pensamentos, que não consegue se livrar. E realmente têm fases da nossa vida em que a gente esquece que o mundo é gigante, do fato de que existem muitas pessoas, muitos caminhos, muitos recomeços – só queremos deitar na cama e chorar por chegar ao fim da linha. Eu digo: fim da linha, nada. É tudo oportunidade de reinvenção fantasiada de fim da linha. E não é querer romantizar problemas, não.
Uma amiga minha, com seus 43 anos, casou e teve uma filha linda. Não deu certo, separou. Hoje, canta em bares e paquera – com um cabelo novo e lindo. Além de ralar muito como uma profissional exemplar, em uma área escassa, para conseguir ser provedora da casa. Eu acho ela foda e digo isso sempre que tenho oportunidade. As pessoas mais bonitas do mundo são aquelas que saem da inércia e se provam capazes de conseguir aquilo que querem.
E sempre que estou chateada ou me vendo no “fim da linha”, penso: quantas pessoas nasceram e morreram hoje? Olha aí, eu nascendo de novo… "