Do futuro
E de repente, as coisas mudam, Caroline. E daqui onde te escrevo, do futuro, tudo é um pouco menos turvo. Mas, só um pouco. Porque você só tem 8 anos a mais.
Você tem 15 anos e acha que o mundo se resume ao vestido que você vai usar para ir na festa das debutantes no final de semana ou naquela prova difícil de matemática que você precisa passar. Ou, melhor, no vestido da festa e na impressão que você vai causar no menino que toca baixo naquela banda colorida – que é o seu amor platônico meio não correspondido. Aqui, do futuro, eu te digo que ele vai te esnobar muito e você, machucada, vai conhecer outra pessoa. Vai namorar por 2 anos e, depois, terminar. Vai mudar de escola 3 vezes e se apaixonar por outro cara – e namorar por mais 2 anos (dois deve ser um número importante para você). Você vai ficar em uma dúvida mortal entre Ciência Política e Direito, nos seus 17 anos. Vai fazer teste vocacional e todos eles vão apontar ciência política em primeiro lugar. Você nunca vai levar essa questão ao seu pai, porque vai se convencer que, dentro do Direito, vai poder ter alguma área mais política para se apaixonar. Aí, você vai conhecer Direito Constitucional e o seu professor de Constitucional que, ironicamente, vira seu namorado. Mas antes, você vai se deparar com o desafio mais diferente e difícil de todos – vai ser mãe. Uma mãe bem jovem. Você não vai ficar com o pai da sua filha, mas, ele vai ser presente na vida dela. Você vai detestar o desafio várias vezes e questionar o porquê das suas amigas terem vidas “normais” e você ter sido mãe com apenas 20 anos. Você vai se irritar muito com o preconceito que as pessoas têm com mães jovens e vai acabar tendo uma visão desromantizada da maternidade. O mais importante disso tudo é ela, a Cecília, que será sua melhor amiga e fará toda essa jornada valer a pena. Seu pai vencerá batalhas doloridas. Você chorará com ele. Dará muita risada com ele, também. Você vai chorar sozinha no carro ouvindo Chico Buarque e pensando em como será sua vida quando seu pai não estiver mais aqui, mesmo ele estando a uma ligação de distância. Porque você vai continuar sendo assim, bem do jeito como você é – sensível e, no fundo, inocente. Você vai fazer muitas amizades. Algumas não vão mais lhe caber com o tempo. Você as jogará fora. Você vai esfregar muito uma mão na outra nos momentos de tensão – essa mania não vai te abandonar tão cedo. Mas, agora, você faz análise e toma remédio para esfregar menos as mãos e repetir menos as palavras. Você sabe o que eu quero dizer. O mais importante do detalhe das mãos que sempre se encontram, é que você vai perceber que sempre está de mãos dadas consigo mesma. E será assim até 2020. Você, duas mãos firmes, uma filha e muitas coisas em perspectiva. Mas isso, em 2020, Caroline de 15 anos.
Conto com você até lá.