Russa Loka e a vontade de viver.
Você me pediu para acreditar. Que tudo passa. Que o sofrimento é efêmero. Disse que eu sou linda, que me conheceu antes dessa bagunça toda acontecer e que eu estou cada vez mais perto da Carol que eu costumava ser em 2015. Você brindou dois Russa Loka comigo e me abraçou. Meus olhos se encheram de lágrimas. Você me emprestou uma roupa sua pra eu variar um pouco o meu guarda-roupa. O seu perfume. Comemos japonês, tomamos Praya e você me ajudou a chutar essa bola para frente. Você me devolveu as nossas gírias e o jeitinho de dançar. Contou aquela história que a gente conta pra todo mundo, no fumódromo do bar. Conhecemos caras legais. Ficamos até 00h30 e fomos embora.
No dia seguinte, acordei e meus pés tocavam o chão de uma forma diferente. E não era porque eu descobri a Russa Loka e o Viena Spritz na mesma noite. Eu olhei para o meu celular e ele estava lá – 100% carregado. Me olhei no espelho – tudo no lugar. Concluí: “ufa, o mundo não acabou…”. Comecei a responder às mensagens de amigos que perguntavam: “como você está?”. Passei a adotar o “estou maravilhosa, obrigada!”. Tomei banho e fui para o escritório, me sentindo diferente.
Eu provei para mim que o sofrimento é mesmo efêmero, como você me disse. Há uma semana eu estava angustiada, esperando aquela mensagem que não chegava nunca. Querendo correr no parque para fugir da ansiedade. Chorando baixo. Fugindo do espelho.
Ironias da vida. Bastou uma conversa de meia hora com você e dois Russa Loka no Janela. Você fala com propriedade, minha amiga. Você me encoraja a passar o Ruby Woo da MAC e sair por aí de coque alto no cabelo. Você canta comigo no último volume. Você me acompanha no tour pelos bares da Carlos de Carvalho. Você é parceria máxima, sabe como? Desde ficar em casa de bobeira até ir para o Rio de Janeiro ver o show do De La Soul.
Quando você foi morar no México, eu quase morri de saudade. Ainda bem que você voltou pra me ensinar que existe vida após a minha bagunça. Para me lembrar das gírias, da dancinha, da história. Para secar as minhas lágrimas. Para me ensinar a levantar e andar novamente, quando eu caí com tudo no chão.
Descobri o Russa Loka, o Viena Spritz, aprendi a cantar funks novos e, o mais importante: quase nem lembro que eu tenho celular – aquele mesmo, que eu olhava 300 vezes por dia, a esperar a mensagem que não chegava.
Estamos vivas. Felizes. Chutamos a bola juntas. A princípio, o que você vai fazer amanhã? Estou louca para colocar um som no último volume e sair de coque alto por aí…