Imigrantes recomeçam a vida no Paraná
O haitiano Jean Patrice Michel, 33 anos, saiu de seu país em 2011 para estudar na Argentina, mas no caminho para a nova vida descobriu que havia sido enganado e perdeu todo o dinheiro que investiu no estudo. Michel não perdeu as esperanças, mudou o trajeto e veio para o Brasil. Chegou pela Amazônia e depois fixou-se em Curitiba.
Na capital paranaense desde 2013, buscou ajuda no Centro de Informação para Migrantes, Refugiados e Apátridas do Paraná (CEIM), criado pelo Governo do Estado e foi encaminhado para diversos trabalhos e, também, para retomar os estudos.
“Fui encaminhado para várias entrevistas de trabalho e, também, consegui uma vaga em um curso técnico de química. Nunca pensei em seguir nessa área, mas estou apaixonado pela profissão, até pensando em ir além e fazer uma faculdade”, afirma.
Vinculado à Secretaria da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos, o Centro de Informação para Migrantes, Refugiados e Apátridas prestou 5.245 atendimentos a pessoas de 41 nacionalidades. Michel é um dos beneficiados. Hoje ele trabalha na fábrica da Nutrimental, emprego que surgiu por indicação dos amigos do curso, e pensa em continuar em Curitiba.
“Me sinto acolhido aqui, mesmo com a fama que o curitibano tem de ser mais fechado. Fiz bastante amigos, saio para dançar, jogar basquete e vou aos parques. Mas confesso que é preciso ser forte para ficar seis anos longe da família e dos amigos, o que me dá ânimo é acreditar que tudo na vida precisa de esforço”, diz.
OPORTUNIDADES – Já o venezuelano Carlos Arturo Petit, 22 anos, está há quase dois anos no Brasil. Ele ficou nove meses em Manaus e depois instalou-se em Curitiba. Arturo saiu da Venezuela devido a crise. Ele tinha uma loja de produtos automotivos, mas com a situação econômica do país teve que fechar o estabelecimento. “A situação ficou insustentável, não tinha mais como sobreviver e tive que buscar outras oportunidades”, relata.
Quando chegou em Curitiba contou com o apoio de uma igreja e do Centro de Migrantes. Conseguiu oportunidades para trabalhar em hotel e restaurante e, inclusive, foi encaminhado para um curso técnico de informática.
“Tive que vender pastel e sorvete na rua para conseguir chegar a Curitiba. Ao chegar fiquei meio perdido e a ajuda do Centro de Migrantes foi fundamental para que eu pudesse recomeçar a minha vida e saber como me organizar aqui”, diz Petit.
Ele vai começar o curso neste semestre e já pensa em se especializar aos poucos. Petit diz que gosta de Curitiba e que muitas coisas aqui lembram a sua cidade, Caracas. “Aqui consegui melhores oportunidades e me adaptei bem ao clima. A preservação da história e a parte cultural me lembra muito a minha cidade natal. Estou feliz e não penso em voltar”, afirma.
APOIO – A atuação do Centro de Migrantes e envolve ações de outras secretarias de estado, como Família e Desenvolvimento Social, Educação e Saúde. Há ações, também, com a Polícia Federal e a prefeitura de Curitiba. Entre os mais de 5,2 mil atendimentos estão serviços como a regularização e obtenção de documentos, acesso a serviços básicos, como na saúde, assistência social e educação; orientações sobre a revalidação de diploma, acesso as escolas de nível básico, fundamental e médio, educação profissional e a vagas de trabalho.
Segundo a coordenadora do centro, Maria Tereza Rosa, o objetivo é prestar informações sobre o acesso às políticas públicas e encaminhar as pessoas aos serviços essenciais para recomeçar uma nova vida.
“Aqui eles têm acesso as informações sem precisar procurar em diversos órgãos. Fazemos os agendamentos na Polícia Federal para que os imigrantes possam tirar as cópias dos documentos e, assim, ter acesso a serviços como a emissão de carteira de trabalho. Dessa maneira, essa população pode dar continuidade a sua integração local e se organizar socialmente”, diz a coordenadora. Entre os serviços mais procurados estão a busca por vagas de trabalho (4.189); área jurídica (478), que envolve a regularização de documentação; educação (191); e assistência social (394).
MAIOR DEMANDA – O Paraná é o terceiro estado do Brasil que mais acolhe imigrantes em todo o Brasil. Para se ter ideia, em 2016, trabalhavam 13.833 pessoas de outros países com carteira assinada no Estado, atrás apenas de Santa Catarina (14.348) e São Paulo (43.141). Desde 2010, o número de pessoas que chegam ao Estado aumentou 277%.
Os dados são de um levantamento realizado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes), com base nos dados do último relatório da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho.
TRABALHO – Vagas de trabalho é uma das maiores demandas do Centro de Migrantes, que já realizou 4.189 atendimentos. De acordo com Maria Tereza, o trabalho busca respeitar toda a história da pessoa e reinseri-la gradativamente na cultura local, mas o trabalho é o primeiro passo, até mesmo para garantir a subsistência.
“Depois começam as buscas por outros avanços, como a revalidação do diploma, a inscrição no conselho de classe da categoria e assim por diante. Buscamos fazer os encaminhamentos de maneira bastante respeitosa, tentando privilegiar os saberes que eles trazem dos seus países de origem, as experiências profissionais”, diz a coordenadora.