Carlito Paes, uma liderança emergente que se tornou referência para líderes evangélicos em todo o Brasil
De perfil conciliador e sereno, o pastor Carlito Paes não procurou holofotes para mostrar o brilhante trabalho que vem fazendo à frente de uma das igrejas locais que mais cresce no Brasil. Em São José dos Campos (SP), a Igreja da Cidade é um fenômeno a ser estudado, com 18 mil membros e 500 igrejas associadas à Rede Inspire. Aos 48 anos de idade, Carlito Paes se tornou uma liderança emergente referência para líderes evangélicos em todo o Brasil.
Parte da grande mídia tentou atribuir a indicação de Iolene Lima para o segundo cargo mais importante do Ministério da Educação ao pastor de São José dos Campos, que prontamente desmentiu a informação. Carlito só esteve com o atual ministro da Educação em um encontro público de oração em dezembro passado, mas não tem nenhuma amizade com o Ministro! Mas, confirma que apoiou o nome e Iolene por seu perfil técnico, quando ela já estava dentro do MEC como Diretora para Educação Infantil e Secretária Adjunta, e já tinha deixado o Colégio onde trabalhava e estava nomeada e servindo no MEC, como diretora na pasta.
Carlito Paes é pastor líder da Igreja da Cidade em São José dos Campos (SP) e da Rede de Igrejas da Cidade, hoje com mais de 18 mil membros. A igreja cresceu e mantém diversos ministérios de apoio. Ele é fundador de organizações como a Rede Inspire de Igrejas, com mais de 500 igrejas associadas no Brasil e no exterior, Colégio Inspire, Futuramente será aberta a FCC (Faculdade Cristã da Cidade), Editora Inspire, Instituto Propósitos de Ensino (IPE), ABAP (Associação Beneficente de Ajuda ao Próximo), Rádio Cidade e Casa SOL (voltado para dependentes químicos). É cofundador da AIBC (Alianças de Igrejas Batistas em Células) e membro do GKPN (Rede Global do Reino). Natural de Macaé (RJ), é Bacharel e Mestre em Teologia, palestrante internacional sobre liderança e autor de mais de 20 livros publicados, entre eles, “Família para Sempre”, “Homens Imparáveis”, "Igreja Brasileira com Propósitos” e “Igrejas que Prevalecem". Carlito é casado com a pastora e psicóloga Leila Paes e pai de quatro filhos. Vive em São José dos Campos desde 1997. A Igreja Batista da Cidade, ou IC, é filiada à Convenção Batista Brasileira. Com exclusividade, o Agora Paraná falou com Carlito Paes. Confira a entrevista na íntegra.
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Agora Paraná – O senhor é pastor da Igreja da Cidade. Quanto tempo tem a igreja? Como ela se formou?
Pastor Carlito Paes – Cheguei em São José dos Campos em junho de 1997 e assumi a igreja como pastor adjunto, fiquei por dois anos auxiliando o pastor líder da igreja. Depois que ele deixou o ministério e foi para os EUA em 1999, iniciei como pastor líder da igreja, após ser convidado por ela em uma votação por escrutínio secreto com mais de 96% dos votos. Iniciamos aí uma transição de uma igreja batista tradicional para uma igreja batista contemporânea, de um pastor para múltiplos pastores, de uma localização para múltiplas localizações, de uma estrutura de ensino baseada na Escola Bíblica para uma igreja com ensino também por meio de células nos lares (encontros de pequenos grupos de pessoas nas casas durante a semana). E a igreja então passou a ter um gradativo, mas grande crescimento, saindo de 620 membros em 1999 para mais de 18 mil membros em 2019, portanto, 20 anos depois.
Agora Paraná – A igreja da Cidade é referência no Brasil pela visão e organização de uma igreja relevante. Como foi o processo para chegar até este patamar?
Pastor Carlito Paes – É fruto da benção de Deus, sua graça, soberania e amor. A Igreja da Cidade é uma igreja que leva a sério os movimentos de oração e espiritualidade, tudo aliado ao crescimento da cidade de São José dos Campos, que cresceu muito nos últimos 20 anos. É também fruto do dedicado serviço de um grande time de líderes e voluntários. Hoje a igreja possui mais de 200 diferentes ministérios, é uma igreja viva e ativa, que se reinventa sempre, é uma força em movimento. O segredo do crescimento está no movimento e na renovação constantes. A História nos mostra que a grande maioria das igrejas mais tradicionais na Europa, EUA e também no Brasil que não se atualizou e se renovou, está hoje em estagnação ou decréscimo. E algumas, quando crescem, não é como fruto de evangelismo e batismos, mas da adesão de pessoas oriundas de outras igrejas evangélicas. Afinal, sempre existem os descontes e, em especial, sabemos que o brasileiro é muito passional. Esta migração entre igrejas é um fenômeno da atualidade, mas isso não se explica pela Teologia, e sim, pela Psicologia e Sociologia. É muito mais uma questão existencial e social do que teológica e acontece em todos os países. É ainda mais forte quando se trata de pessoas que não gostam de atualizações e mudanças. Um amigo meu me disse que “se o Século XX voltar, muitas igrejas estarão prontas.” Infelizmente, é verdade, e, felizmente, este tempo não voltará mais. No passado, a questão para as igrejas era mudar ou não mudar, hoje, é mudar agora ou mudar depois. A Igreja Batista da Cidade, ou simplesmente Igreja da Cidade, é uma igreja de diferentes estilos, com ajustada organização, planejamento e gestão, buscando excelência em tudo que faz, porque a excelência honra o Céu e inspira a vida das pessoas. Desde 2001, a igreja procura aplicar os princípios de vida e de igreja dirigida pelos propósitos, uma equilibrada estratégia bíblica de unir adoração, comunhão, discipulado, ministério e missões, tanto para a vida das pessoas, como para a realização do ministério dentro e fora da igreja, dando a clara direção de que não estamos aqui na terra para servir a nós mesmos, mas para viver com propósitos.
Agora Paraná – Como e quando o senhor se tornou referência para outros líderes evangélicos do Brasil? Como funciona a Rede Inspire?
Pastor Carlito Paes – A igreja brasileira, em geral, passa por um grande crescimento no Brasil. Isso tem sido visto e analisado também por outros países. No mês passado, por exemplo, houve um grande encontro de jovens líderes em Orlando, denominado “The Send”, ou “O Envio”. E dos 40 mil presentes ao encontro, mais de 10 mil eram brasileiros. O Brasil passa por um grande crescimento neste sentido. Apesar de todos os nossos problemas como brasileiros e como evangélicos brasileiros, Deus tem levantado líderes em nosso país, como fez no passado e está fazendo hoje. Existe uma grande geração de novos líderes no país, e eu tenho dado minha contribuição por mais de 25 anos no estado do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. A Rede Inspire de Igrejas nasceu há quase 10 anos para inspirar, servir e capacitar a igreja brasileira e seus líderes. É uma organização social filantrópica, com mais de 500 igrejas associadas que recebem todos os recursos de liderança e ministérios desenvolvidos pela Rede de Igrejas da Cidade. Não é uma denominação, é uma associação livre em que as igrejas podem entrar e sair e podem usar o que desejarem de recursos para expandir seus ministérios. Não são igrejas diretamente nossas, são igrejas irmãs de todas as denominações, em todos os estados da federação exterior.
Agora Paraná – Pastor Rick Warren foi considerado um dos dez homens mais influentes do mundo. A visão da Igreja da Cidade tem uma visão similar com a igreja de Saddlleback. Como os valores cristãos podem influenciar a sociedade?
Pastor Carlito Paes – Rick Warren de fato é um grande homem e um grande líder, uma das mentes mais brilhantes e um dos corações mais apaixonado por Jesus e por pessoas que já conheci. Conheço sua vida e ministério desde 2001, um homem que já experimentou muitas dores e traumas profundos, teve fama e dinheiro, mas nada mudou sua vida interior. Ele continua sendo o pastor Rick Warren. Ele sempre diz que, à medida que sua igreja cresce, sua agenda vai mudar, mas seu coração nunca pode mudar. Ninguém passa por tudo que ele passou sem marcas e experiências profundas. Ele passou por dores, perdas, lutos, influência e poder, mas escolheu entregar tudo isso para Jesus, para causas humanitárias, para o Reino e continua sendo um líder servo, homem simples e cheio de sabedoria de Deus. Aprendi e aprendo muito com ele. Uma vez me perguntaram se eu recebi dinheiro da igreja dele para ajudar a comprar o terreno de nossa igreja sede em São José dos Campos ou para construir. Eu disse: nunca, nenhum centavo, porque ele me deu algo maior: uma visão, mentoria e inspiração para realizar tudo aquilo.
Agora Paraná – O senhor faz parte de um novo grupo de líderes emergentes no Brasil. Pastores que estão longe dos holofotes, mas que exercem forte influência no país. Qual a sua relação com estes líderes?
Pastor Carlito Paes – Relevância não tem a ver com proeminência. Por exemplo, no corpo humano, o nariz é proeminente, mas todos podemos viver sem o nariz que todos veem. Um coração e um cérebro, ninguém os vê, mas não podemos viver sem eles. Pela minha função pública, já tenho uma visibilidade maior do que gostaria, realmente não gosto e não tenho interesse em aparecer em lugar nenhum. Sou um homem que nasceu no interior no interior, gosto de coisas simples e gosto de viver fora dos holofotes, coisa de que não posso fugir, infelizmente, devido ao tamanho e influência da igreja, das pregações e conferências por todo o país, pelas celebrações e ministério da Igreja na Cidade, pela realidade da internet e redes sociais e da demanda da imprensa. Veja, estou dando uma entrevista para você hoje, mas gosto do sossego. Quando me exponho, desejo que o Reino de Deus seja edificado e que Jesus seja anunciado para as pessoas pelo poder do Evangelho. Sou um pobre pecador pregador, mas fui encontrado por Jesus, Ele salvou minha vida. Minha mãe me educou no Evangelho, tive ótimos pastores mentores na minha vida, como o Pastor Paulo de Souza Nunes no interior de Macaé, Dr. Jerry Stanley Key que me ensinou a pregar, Pastor Walmir Vieira que me instruiu e inspirou no ministério, pastor Dr. Ebenezer Soares Ferreira, que me deu a primeira oportunidade ministerial e me ordenou ao ministério pastoral Batista, dentre outros homens de Deus que passaram em minha vida. Ninguém na vida cresce sozinho, todos precisam de pais e mentores. Mentores são fundamentais na vida de um líder, além da formação acadêmica e espiritual.
Agora Paraná – Algumas pessoas da sua igreja exercem influência política na sociedade, seja nas áreas de educação, direito e agora despontando nos governos. O senhor faz essas indicações? Como essas pessoas chegaram a postos influentes?
Pastor Carlito Paes – Uma igreja local com mais de 18 mil membros, sendo somente na cidade sede 13 mil, possui em sua membresia muitos talentos, lideres, empresários e profissionais em todos os setores da sociedade, e isso é ótimo. Como pastor líder, meu desejo é inspirar e capacitar esses jovens, homens e mulheres a fazerem diferença na sociedade. Por exemplo, um jovem de minha igreja, médico e cirurgião bem-sucedido, saiu para vereador municipal e foi um dos mais votados na cidade. Hoje é o único medico entre os 21 vereadores na cidade e tem um mandado lindo de serviço ao município. Ele não entrou na política para ser bem-sucedido, porque ele já era. Creio que muitos jovens devem fazer o mesmo no Direito, Jornalismo, Educação e serviço empresarial ou público. Em particular, não tenho nenhum interesse na política partidária e em participar em eleições, sejam municipais, estaduais ou federais. Já recebi convites de partidos para ser candidato a vereador e vice-prefeito em minha cidade, deputado estadual e federal por meu estado, mas nunca alimentei nem especulações com meu nome. São funções importantes e nobres, mas Deus não me chamou para esta missão. Creio que, para um cristão conseguir viver esta realidade e fazer um bom serviço para as pessoas, precisa haver um chamado. Penso como o pastor Rick Warren que, no auge de sua influência, quando seu livro “Uma Vida com Propósitos” vendeu mais de 40 milhões de cópias no mundo, quando ele orou na posse do presidente Barack Obama, perguntaram a ele se ele iria se candidatar para algum cargo público, e sua resposta foi: “Não aceitaria um cargo menor do que ser pastor”. Sem nenhuma arrogância ou orgulho para minha classe de colegas, eu realmente acredito que esta é uma posição linda e fantástica para influenciar e abençoar a vida das pessoas e mudar realidades sociais e espirituais na cidade, estado, nação e mundo, como designou o nosso Mestre e Senhor Jesus Cristo. Liderar é influenciar e é o caráter do líder que vai dizer se ele influencia para o bem ou para o mal, se é em prol do serviço ao próximo ou do benefício pessoal!
Agora Paraná – Quantos membros/frequentadores têm a Igreja da Cidade em São José dos Campos?
Pastor Carlito Paes – Hoje são 18 mil membros, 13 mil na cidade de São José dos Campos, onde a igreja possui 8 campi na cidade. Ela possui quase 200 ministérios, 1.300 células de cuidado, discipulado, pastoreio e serviço nos encontros nas casas. Possui 15 organizações no grupo de serviço ministeriais, atuando em áreas como educação, literatura, comunicação, esportes e serviço social.
Agora Paraná – Como o senhor conseguiu fazer uma gestão inteligente de igreja, dividindo por ministérios e delegando funções? Como o senhor consegue gerir uma equipe de líderes tão grandes com tanta eficiência?
Pastor Carlito Paes – Um líder deve inspirar, capacitar, delegar, confiar e liberar, mas não pode controlar, porque ou você controla ou cresce. Sou um líder que gosto de resultados, excelência, organização, mas realmente não vivo controlando pessoas, equipes, pastores e funcionários. Lideramos pessoas livres e somos uma grande igreja no estilo de família espiritual. Usamos o seguinte lema: “a igreja não é um lugar para frequentar, mas uma família para pertencer”. Hoje temos uma grande equipe administrativa e financeira para liderar organizações e processos. Não é fácil, porque as pessoas são pessoas, não máquinas, e têm suas lutas, falhas, fraquezas e passionalidades. Mas, não desistimos. O grupo Propósitos de serviços ministeriais, do qual a Igreja da Cidade é parte, funciona com mais de 400 pessoas trabalhando, entre funcionários CLT, estagiários, contratados, terceirizados, pastores, vocacionados e ministros.
Agora Paraná – Como o senhor avalia a relação da igreja com as autoridades constituídas?
Pastor Carlito Paes – A ordem bíblica diz: “Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas” (Romanos 13:1). Todos devemos orar, apoiar e obedecer, quando tudo estiver em paz e dentro da lei. No entanto, se estiver no erro e na injustiça, temos que ser voz profética e, de forma pacífica, usar a voz para denunciar e declarar que se voltem para a justiça e o Senhor. Em particular, eu sou uma pessoa mais de direita, digamos assim, mais conservadora quando falamos de princípios e valores, mas nosso país já teve lideranças a nível municipal, estadual e federal de esquerda, centro esquerda e direita e este princípio não muda. Agora, temos um de direita, em quem eu pessoalmente votei, o atual presidente Jair Bolsonaro. Creio que ele está muito bem-intencionado, já temos muitos resultados e ele foi eleito pela grande maioria do nosso povo para fazer um governo de direita, conservador, com valores e princípios pela fé e família. Claro que a posição sempre fará o papel dela, mas penso que estamos em uma democracia e precisamos orar e torcer para tudo dar certo. Mesmo com as forças contrárias, ele é um grande vencedor, tendo passado por tudo que passou e, infelizmente, falta visão de patriotismo e grandeza em muitos setores da sociedade, inclusive na política. Mas estou otimista com o Brasil e o novo governo, orando e desejado que acerte, corrija os erros dele mesmo e dos outros, que são muitos, e una o país para aprovar as mudanças e seguirmos em frente.
Agora Paraná – A corrupção tem sido um grande problema da nossa nação. Como o senhor avalia esse tempo em que ex-presidentes estão presos e estes atos beirando o senso comum?
Pastor Carlito Paes – Sim, o nosso país passa literalmente por uma Lava a Jato, tem muita sujeita sendo lavada. Nestes últimos 5 anos, temos juízes e promotores, inclusive alguns cristãos evangélicos, fazendo um trabalho brilhante. No entanto, estamos vendo uma clara interferência entre os poderes que já está causando problemas e gerando confusão e divisão na sociedade. Cada um tem o seu papel e todos temos que trabalhar juntos para combater o crime e a corrupção, porque são dois problemas que andam juntos, de mãos dadas, e drenam a paz e os recursos da sociedade pública e privada. Precisamos continuar na luta contra a corrupção no sistema e na vida pessoal de cada um. Creio que tivemos muitos avanços, mas precisamos continuar fazendo a nossa parte para avançarmos. O Supremo deve legislar, o Executivo governar e o Legislativo deve fazer as leis e fiscalizar para que sejam cumpridas. O Ministério Público precisa defender e zelar, e todos nós, cidadãos, temos que zelar pela nossa parte cuidado no voto, na cidadania e na ação pessoal com ética, honestidade, moralidade e consciência. A lei é para todos, para que o país seja para todos.
Agora Paraná – Muitos evangélicos estão ocupando cargos importantes nesse novo governo. Eles estão preparados para este desafio? A igreja de um modo geral se preparou para este tempo?
Pastor Carlito Paes – Acredito que sim, pelo que sei, dos 22 ministros pelo menos 3 são evangélicos, embora que estejam lá por méritos próprios e não por serem cristãos. Dentro de cada ministério, deve haver também muitos cristãos evangélicos, até porque, segundo o último senso do IBGE, são 22% de evangélicos no pais. Este governo possui uma linha de direita, com muitos militares, mais conservadora e pela família, e é natural que muitos profissionais evangélicos se enquadrem neste perfil. Todavia, penso que alguns estão mais bem preparados do que outros, e isso também é normal. Inclusive, creio que entre os parlamentares evangélicos que compõem a nova legislatura do Senado e da Câmara, estão também muitos novos evangélicos. Se serão bons ou ruins, se estavam preparados ou não, o tempo vai dizer. Mas, lamentavelmente, há muito serviço ruim no meio evangélico, sem querer julgar ou generalizar, apenas constatando o que vemos, assim como na sociedade em geral. Por outro lado, é claro que o evangélico é mais cobrado pela sociedade, devido a sua fé e valores.
Agora Paraná – A professora Iolene Lima faz parte da Igreja da Cidade. Foi o senhor que a indicou para este cargo? O senhor apoiou o nome dela para o segundo posto mais importante do MEC. Como foi este processo?
Pastor Carlito Paes – A professora Iolene é uma grande profissional, toda a sua carreira é voltada para educação pública e privada confessional. Ela foi professora da rede pública por muitos anos, foi professora de sala de aula e exerceu cargos de diretoria e gestão, foi diretora da Escola Batista Regular e foi Diretora e fundadora do Centro Educacional Inspire em nossa cidade. O Colégio Inspire é um dos colégios filantrópicos mais bem-conceituados do nosso estado, mesmo tendo apenas cinco anos. Ela tem experiência e formação, é uma mulher de garra e fibra. É membro de nossa igreja há muitos anos, e sempre mostrou gostar de movimento e inovação. Acreditando que seu ciclo no Colégio terminou, ela aceitou o desafio e o convite do professor Luiz Tozi. Para todos nós foi uma surpresa, eu nem conhecia o professor Tozi. Ele, sabendo da atuação dela na área de educação infantil, formação de professores, militante na causa do Plano Nacional de Educação e evangélica, creio que tomou conhecimento e a convidou para ser parte na equipe da secretaria de educação básica no MEC, até porque ele vem do ensino superior, que é sua maior expertise. Assim, depois de conversar comigo e com a direção do Colégio, ela aceitou o honroso convite e deixou para trás seus confortáveis 5 anos no Colégio e seu contrato de CLT para servir ao país e ao governo em que acredita. Mas com toda a instabilidade e crise que se abateu na pasta, como todos sabemos, o Secretário Executivo Luiz Tozi foi dispensado, e ela, como já estava há dois meses em Brasília como diretora e secretária adjunta, foi indicada pelo Ministro para ser a nova executiva do MEC. Como o nome já estava fragilizado, o nome da Iolene tampouco se sustentou, e pior, ficou dias em suspenso recebendo críticas, sem ao menos haver a nomeação e também não resistiu. Creio que ela perdeu, bem como o MEC e a Educação pública do Brasil. Ela desfruta de um ótimo conceito junto à diretoria da AECEP. O caso da edição do vídeo da entrevista dela sobre Educação por Princípios cristãos em 2013/14 de forma tendenciosa e parcial a prejudicou. O fato dela ser da equipe do Secretário que caiu, aliado ao fato de que a tentativa interna dela de ascender ao cargo para sustentar o apoio ao Ministro diante dos evangélicos, sem que isso fosse alinhado com os próprios líderes evangélicos, fizeram com que não houvesse sustentação. Respondendo depois de historiar, eu não a indiquei para ir para o MEC. Ela foi convidada por ser técnica, mas dei todo apoio, oração e referências para que ela pudesse servir nesta função. Não a remendei ao ministro Veléz, porque não tenho esta influência e não tenho seus contatos pessoais. Para os amigos que me perguntaram e funcionários do Ministério, eu a apoiei naturalmente. Oro e torço para que esta crise neste Ministério tão importante possa ser resolvida, porque a Educação não pode esperar. Mas, pelo que estamos vendo, a crise ainda se estende.
Agora Paraná – Quem deu a vitória para Bolsonaro nas eleições foram os evangélicos. Qual o poder de mobilização da igreja neste tempo?
Pastor Carlito Paes – A sociedade brasileira deu esta vitória, e muitos grupos foram responsáveis, dentre eles, um dos mais fortes com toda certeza foram os evangélicos, justamente devido à realidade dos programas e políticas públicas que estavam sendo implantadas no país e os terríveis escândalos de corrupção. E a vitória também veio pela natural alternância de poder que é comum na política. A igreja ainda não está se mobilizando, são iniciativas mais individuais do que coletivas. Creio que a igreja ainda é muito desunida, passiva e, por vezes distante, porque está fechada entre seus muros, preocupada com seus usos e costumes, doutrinas e cultura, em sua zona de conforto. Temos uma agenda muito pesada de serviços internos, creio que isso pode mudar a qualquer momento, mas ainda não aconteceu em minha opinião. Apesar disso, muitos irmãos e alguns líderes foram para as ruas nos anos passados contra a corrupção e governos corruptos. Os movimentos que levaram o povo para as ruas foram muito pouco gerados ou alimentados pelas igrejas e denominações.
Agora Paraná – Qual a maior contribuição da igreja evangélica para o país?
Pastor Carlito Paes – São muitas e de longos anos, desde 1824, com a chegada dos primeiros imigrantes que professavam esta fé. A contribuição espiritual, humana, social, educacional, cultural é imensa. Hoje, se o senso for atualizado, deve trazer a casa de quase 30% da população brasileira evangélica, com milhares de igrejas e organizações, como creches, escolas, faculdade, hospitais, editoras e ONGs ligadas a elas. São igrejas e denominações históricas, pentecostais, neopentecostais, comunitárias, grandes e pequenas, denominacionais ou não. Sua maior contribuição é orar pelo país, cuidar das pessoas, amar e servi-las com a real, viva e contextualizada pregação do Evangelho, com ministérios saudáveis, sendo voz ativa na sociedade, ajudando com cristãos de ótima formação e caráter o governo a cumprir seu papel, bem como, em todos os poderes constituídos. Como disse Bill Hybels, pastor batista em Chicago (EUA), após o atentado das torres gêmeas em Nova York em 2001: “a igreja é a esperança do mundo”. De fato, a igreja e a família são as duas bases das sociedade, por isso, são por vezes as mais atacadas organizações da sociedade. Atacando e destruindo as duas, nada por cima ficará de pé. A igreja de Jesus Cristo é a resposta, precisa ser viva e saudável.
Sou uma pessoa otimista, acredito que o melhor ainda está por vir para o nosso país e nosso povo, e tenho certeza de que a igreja estará aqui para servir com a “bacia e a toalha” como fez Jesus, o nosso Senhor e Mestre. Charles Swindoll, escritor norte americano disse: “um ministério que não custa nada, não leva a lugar algum.” Então, estou consciente de que liderar não é sobre agradar ou não, é sobre fazer o que é certo para servir as pessoas e transformar vidas.
Agora Paraná – Quais são as suas maiores referências internacionais de Igrejas e pastores internacionais da atualidade?
Pastor Carlito Paes – São muitos! Só os tolos não aprendem com os bem sucedidos! Não tenho vergonha de aprender e ensinar o que aprendi, tanto no Brasil e fora, ao pregar em todas as capitais do país, para pastores e líderes, sempre aprendo com sua igrejas! No exterior em particular minhas referências, são os pastores líderes e suas inspiradoras igrejas: Rick Warren, da Saddleback Church, em Lake Forest-CA, Bill Jonhson e Kris Vallotton da Bethel Church em Redding-CA, Robert Morris, da GateWay em Dallas-TX, Graig Groeschel da Life Church em Edmond, OK Steven Furtick da Elevation Church em Chalotte-SC, Andy Staley da Nort Poit Church em Atlanta-GA, Brian Huston da Hill Song Australia e varios de seus pastores locais pelo mundo, como Mário Rui Boto de Portugal, T. J. Jakes, Igreja Potter's House, Dallas-TX, Michel Bredour-CA, Benny Liebich da a Jesus Culture, Sacramento-CA, Erwin McManus da Mosaic, em Hollywood-CA, Dave Guibbons, da New Song também na Califórnia e muitos pastores que fazem parte do GKPN! Estes e tantos outros, nos EUA e no Brasil, aprendi e cresço muito lendo seus livros, participando de suas conferências quando possível e ouvindo seus sermões on line! Todos estes caras tem muito o que dizer! Só crescemos se continuarmos aprendendo com boas referências.
Existe um preconceito muito grande contra os pastores e liderança evangélica no país, devido em especial a moral cristã ser contrária ao hedonismo secular e inversão de valores, querem que a igreja baixe o preço do evangelho e concorde com a moral do mundo, e por isto criticam e distorcem tudo que fazem e é feito de forma social, espiritual e cidadã! Mas a vida segue e assim tem sido nos últimos dois mil anos da fé cristã! Não existe como dimensionar o legado da fé evangélica cristã nestes últimos quase 150 anos no Brasil e em todo mundo! Rick Warren disse algo que nunca esqueço! “Eu não sei o segredo do sucesso, mas a do fracasso é tentar agradar todas as pessoas!” O nosso melhor está por vir sempre com Jesus!